01/08/2008

Memória de Teresina é destruída aos poucos

Da última vez que fui à cidade de Parnaíba, fiquei encantada quando pude conhecer, no Porto das Barcas, ainda que muito rapidamente, um pouco das construções antigas da cidade. Da mesma forma aconteceu quando fui a Salvador, na Bahia, com o seu Pelourinho, e em Natal, no Rio Grande do Norte, com prédios como o que serviu de residência para Câmara Cascudo, estudioso da cultura brasileira.

Em Parnaíba há mais prédios históricos

Infelizmente, em Teresina, não tenho essa mesma satisfação. Locais isolados ainda guardam um pouco da história da cidade, mas nada que atraia a atenção, tanto de quem na cidade reside, como de quem vem visitá-la. É uma pena.

É para Parnaíba que a professora de História da Arquitetura do Brasil, Kaki Afonso, leva seus alunos quando quer mostrar algo para eles. “Quando eu quero mostrar ao pessoal, temos que ir para Parnaíba, porque em Teresina não tem mais nada. Você tem uma coisa ou outra solta [em Teresina], mas não tem um conjunto. É uma pena que isso esteja acontecendo”, lamentou ela, em entrevista que fiz para o Acessepiauí.

Na capital piauiense há uma lei que versa sobre a proteção do Patrimônio Cultural do Município, a de número 1.942, de 16 de agosto de 1988. No entanto, não existe um órgão que fiscalize a aplicação da mesma, o que tem permitido que, com o transcorrer dos anos, a memória da cidade seja apagada.

Casas de personalidades importantes da nossa história foram demolidas para dar lugar, na maioria das vezes, a estacionamentos. Foi o que aconteceu com a residência de Antonino Freire, que ficava em frente ao Palácio de Karnak, e com uma casa da época da fundação de Teresina, localizada na rua Lizandro Nogueira, próximo ao Mercado Central. Isso acontece porque, para a maioria daqueles que administram a cidade, o capital fala mais alto.


Casa que era do ex-governador Pedro Freitas, na avenida Frei Serafim,
foi demolida para a construção do hotel Metropolitan


O presidente da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, José Reis, garantiu que no início de 2009 esse Departamento de Defesa do Patrimônio, será instalado. Tudo bem. Mas por que isso não foi feito antes?


Em frente ao Palácio de Karnak havia a residência de Antonino Freire, que foi
destruída. No local existe hoje um estacionamento


Ele me explicou que até o ano de 1997, era a Secretaria de Habitação do Município que fiscaliza a aplicação da Lei nº 1.942. Mas o órgão foi extinto e a responsabilidade não foi passada a nenhum outro. Por que só agora, mais de 10 anos depois, vai se instalar esse departamento?

Desejo, sinceramente, que esse departamento consiga preservar o pouco que ainda resta desses locais na cidade. E, que até lá, o que sobrou não seja também destruído.

*A foto de Parnaíba é minha e as outras foram copiadas do Acessepiauí.

Um comentário:

Jorge André disse...

interessante, fernanda, vc falar isso. um professor da UFPI que ministrou Cultura Brasileira (Idelmar, não me lembro se vc era da minha turma) fez a mesma reflexão em um artigo, "A Antifênix e os Seus Fantasmas". Digo, sem vergonha nenhuma, que participo do percentual da população que não registra, na lembrança, as imagens de como Teresina era. Uma pena mesmo, as coisas mudarem e alguns de nós deixarem passar batido. parabéns pela postagem!