Durante nossa conversa, um ponto que achamos importante verificar na nossa análise: a (im)parcialidade nos suportes de imprensa portugueses. No caso de revistas brasileiras, com as quais já fizemos trabalhos (Veja, Istoé, Época e Carta Capital), já ficou comprovado que a parcialidade, a diversidade de intenções e os múltiplos sentidos decorrentes de abordagens diferenciadas, fazem parte do processo de construção e circulação dos enunciados.
Michelly me falou de uma professora da Universidade do Minho que não acredita na parcialidade das revistas portuguesas - para ela, os semanários são isentos, não emitem opinião, apenas demonstram os fatos. Numa análise que fiz da capa de um desses semanários, cheguei a uma conclusão diferente.
Na capa da revista "Visão", de 14 de maio de 2008, o suporte de imprensa traz como destaque a reportagem: "BRASIL: Prostituição infantil no paraíso; Turistas portugueses, espanhóis e italianos são os principais clientes de um negócio que envolve milhares de crianças e adolescentes. Grande reportagem em Fortaleza, Salvador e Porto Seguro".
Num país onde há o preconceito, às vezes camuflado, contra os brasileiros, mostrar o Brasil como um "paraíso da prostituição", em alguns dos seus principais pontos turísticos, não é uma atitude realizada à toa. Em Portugal e outros países da Europa, as mulheres brasileiras são vistas, em sua maioria, como prostitutas. Isso pude comprovar através de conversas que tive tanto com portugueses como com brasileiros lá residentes, quando estive no pais em setembro do ano passado, para apresentar um trabalho no 5º Congresso da Associação Portuguesa de Comunicação.
Um amigo que lá conheci, Carlos Ramires, chegou a dizer para mim e para meus colegas de viagem e de pesquisa, Aline e Felipe, que as mulheres portuguesas têm raiva das mulheres brasileiras. Ele disse: "de uns cinco anos para cá, aconteceram muitas separações de casais, porque houve uma grande quantidade de brasileiras que vieram para cá para se prostituir".
A separação dos casais no país é atribuída à presença das brasileiras. E essa idéia é construída e disseminada com o auxílio de suportes de imprensa como esse que eu citei.
O fato de a matéria citar ainda o envolvimento de milhares de crianças e adolescentes nesse "negócio" quer construir também a idéia da falta de compromisso do Brasil com as suas crianças - para aprofundar neste aspecto, eu precisaria ler o texto publicado no interior da revista, o que no momento não me é possível, já que o site do semanário não oferece essa possibilidade.
Uma coisa é certa: não há discurso imparcial, isento. Há apenas aqueles menos ou mais distanciados ou que se pretendem demonstrar assim.
4 comentários:
Eu sabia que éramos mal vistas! Mas não sabia que chegava a tanto. E quanto à professora, ela tem os olhos bem fechados, não enxerga o que tá acontecendo bem na frente dela.
É impossivel nos livrarmos da tão rejeitada parcialidade!
=*
Jordana Cury
Interessante análise!
Acho que vou fazer análise de discurso tbm!
eu acho que imparcialidade existe, eu até já te disse né
indiferença. mas não no meio midiático!
bjos!
até!
É difícil separar a opinião da mulher, brasileira, discriminada. Por isto mesmo o texto perde um pouquinho do distanciamento necessário a analista de discursos. Mas, como se trata do espaço de um blog pessoal, principalmente, que já no título você ressalta tratar-se de uma abordagem feita segundo a sua visão, o texto está ótimo. Bjs.
Ótima proposta de análise!
Realmente, fica um pouco difícil separar a opinião de uma brasileira e de uma analista ao ver uma capa de revista como essa. Mas siga em frente com a análise do conteúdo da revista também. Só assim você mostrará que é impossível, como disse a Jordana, livrar-se da parcialidade.
Prometo comentar mais aqui! Sempre passo aqui no seu blog =)
Beijos.
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