31/07/2009

Para meu azar e minha sorte, Arnaldo Antunes

O encontro

Era o ano de 2002 e eu estava na 8ª série do Ensino Fundamental. A minha professora de Língua Portuguesa, de nome Evangelina, dividiu a classe em equipes e solicitou a cada grupo um trabalho (valendo nota!) que tratasse sobre o perfil de determinado poeta.

Os trabalhos seriam expostos no pátio da escola, em comemoração ao dia da poesia.

Os nomes a serem pesquisados foram indicados pela professora Evangelina e escritos no quadro a giz (minha escola ainda não possuía quadro de acrílico...). Entre os nomes, Mário Quintana e Vinícius de Morais.

Eu rezei pra que meu grupo ficasse com o Vinícius, mas, para o meu azar, ou melhor, para minha sorte, fiquei com o Arnaldo Antunes. Mas quem é mesmo Arnaldo Antunes? Bom, essa foi uma das primeiras perguntas que eu fiz a mim mesma.

Ainda bem que naquele tempo já tinha internet. Eu e meus colegas recorremos ao Google. E foi lá onde encontramos as fotos de um doido, de cabelo arrepiado, que parecia um ator em um filme de terror – chegava a dar medo.

Os poemas que encontramos eram na verdade músicas. Poemas musicados (ou músicas poemadas?). Alguns versos eram um tanto surreais ou, no mínimo, estranhos, como em O Pulso”, trabalho feito no grupo Titãs.

Do susto que levei ao ver a cara dele impressa em uma das folhas de papel que utilizamos na exposição, fui levada ao encantamento.

Muito menos pela voz dele (mas também por ela) e mais pela genialidade ao brincar com as palavras, pelas construções que fogem totalmente do lugar-comum (ou recorrem ao lugar-comum para desconstruí-lo) e pela emoção que em mim conseguiu despertar, passei a admirar Arnaldo Antunes.

O show

E na noite desta quinta-feira (30), no Theatro 4 de Setembro, em Teresina, o vi de perto pela primeira vez – apesar de ele já ter vindo outras vezes à cidade.

Senti essa emoção de maneira muito mais forte, talvez pelo eco mais intenso da sua voz naquele lugar – e muito mais real que através do áudio das caixinhas de som do meu computador.

Ao seu lado, Edgar Scandurra (ex-integrante do grupo Ira), que não ficou apagado diante do brilho de Arnaldo. Ambos realmente deram um SHOW, com voz, guitarra e muita poesia, apresentando resultados de uma parceria de mais de 20 anos. Aliás, show também quem fez foi a banda Roque Moreira. Dá orgulho ser daqui quando vejo um talento como aquele.

Não posso deixar de ressaltar qual parte foi a mais esperada e emocionante para mim. Foi quando o Arnaldo cantou Judiaria, uma composição de Lupicínio Rodrigues. É que atualmente essa é minha trilha sonora... Além de “Judiaria”, também fizeram parta da apresentação “Música Para Ouvir”, “O Nome Disso”, Lugar Comum, “O Buraco do Espelho”, “Consciência”, “O Silêncio” e “Muito Além”.

E quando o show parecia ter acabado, nem as luzes do teatro se acenderam, nem a plateia levantou. O que todo mundo queria era mais uma música, ou duas, talvez. E atendendo aos pedidos (eu acho que foi até charme deles... o show na verdade não tinha mesmo acabado...), Arnaldo e Edgar retornaram ao palco e cantaram mais duas. A última, “Fora de Si”.

P.S.: Os poemas visuais expostos ao longo da postagem são do Arnaldo. Tem mais arte produzida por ele aqui.

P.S.2: Eu casaria demais com ele!

29/07/2009

Canção para uma valsa lenta (Mário Quintana)


Minha vida não foi um romance...
Nunca tive até hoje um segredo.
Se me amas, não digas, que morro
De surpresa... de encanto... de medo...

Minha vida não foi um romance
Minha vida passou por passar
Se não amas, não finjas, que vivo
Esperando um amor para amar.

Minha vida não foi um romance...
Pobre vida... passou sem enredo...
Glória a ti que me enches a vida
De surpresa, de encanto, de medo!

Minha vida não foi um romance...
Ai de mim... Já se ia acabar!
Pobre vida que toda depende
De um sorriso... de um gesto... um olhar...

25/07/2009

Heróis made in Piauí

Às vezes me pergunto o que a Gyselle Soares fez de extraordinário para o Piauí. Tudo bem, eu até posso reconhecer que ela tornou a Cajuína Cristalina em Teresina mais conhecida, graças ao chamamento carinhoso atribuído a ela pelo nada exemplar jornalista Pedro Bial (este trata os jogadores do BBB como heróis. O que há de heróico naquilo?). Fora isso, não sei o que ela acrescentou de bom para o estado.

(Aliás, cadê a Gyselle mesmo?)

De acordo com o dicionário da língua portuguesa, herói é aquele que se torna ilustre “por feitos de grande coragem”. Já a celebridade, diz respeito, simplesmente, à “fama, renome”, sem, necessariamente, fazer algo de relevante, construtivo.

O que o ocorre é uma confusão entre os conceitos de herói e celebridade, estimulada pela mídia. Essa desordem na aplicação dos conceitos resulta em efeitos como este, de glorificar pessoas que não fizeram nada de representativo. A Gyselle só fez bem a ela mesma. E, diga-se de passagem, contribuiu para a disseminação da imagem do piauiense ignorante.

Assim como a Gyselle, todo dia surgem novos personagens que se tornam célebres, mas acabam recebendo a alcunha de heróis. É o caso da Stefhany (que agora saiu do seu Cross Fox e o trocou por outro carro!). Não que eu duvide do talento musical da moça, longe de mim! Ela tem todo direito de buscar sucesso, o que não pode é a gente atribuir feitos heróicos a alguém que não influi nem contribui para a construção de um Piauí melhor.


Na mesma linha segue o Lucas Celebridade, entrevistado recentemente pela Folha de São Paulo (é sério, eu tenho medo, muito medo!). Ele, que é da cidade de Luzilândia, ficou “famoso” através do seu blog – lugar onde expõe ensaios fotográficos sensuais (?).

Para mim (e para meu professor de Psicologia e Comunicação.. afinal, todo discurso é polifônico!), uma pessoa que poderia realmente ser reconhecida como uma heroína do Piauí é a arqueóloga Niède Guidon, apesar de toda a sua arrogância. Imagino que não deve ter sido coisa fácil lutar contra a má vontade do poder público e a ignorância de muitas pessoas, no intuito de preservar um patrimônio da humanidade, que é a Serra da Capivara e seus sítios arqueológicos.

P.S.: Quem mais pode, realmente, ser considerado um herói no Piauí? Aguardo as sugestões. O espaço para comentário fica logo abaixo... =)

22/07/2009

Clã - Tira a Teima

Vídeoclipe da música "Tira a teima" do grupo português Clã. Eu achei legalzinha!

17/07/2009

Lágrimas não me convencem

Parece que chorar diante da imprensa se tornou moda nos últimos tempos em Teresina. Primeiro foi o prefeito da capital, Sílvio Mendes, ainda durante o caos provocado pelas chuvas.


Depois, o secretário de Turismo do Piauí, Sílvio Leite, chorou ao pisar no “solo sagrado” do aeroporto internacional (?) de São Raimundo Nonato. O choro foi transmitido ao vivo pela manhã e reprisado à tarde. O close feito pela câmera enfatiza ainda mais o rosto “emocionado”.

O engraçado, é que as duas situações citadas acima ocorreram no mesmo canal de televisão, em Teresina. Ambos choraram “ao vivo”, para “deixar evidente” que não era uma encenação. Mas era sim.


Para mim, o choro, o colocar-se como vítima de uma situação ou emocionado diante de outra, é uma estratégia discursiva com o intuito de conquistar a adesão do interlocutor – no caso, quem assiste ao programa de TV: o cidadão comum, jornalistas e, inclusive, os demais políticos.

Outro que adotou esse tipo de estratégia foi o antes desconhecido Érico Luís Araújo, que se tornou personagem midiático com a confusão pela retirada dos camelôs do centro de Teresina. Ele, que se identificou como membro da Comissão Independente que Analisa o Processo de Remoção dos Camelôs, chorou no dia 25 de junho, em entrevista a um portal de notícias.

Acho muito pouco provável haver sinceridade num choro que se faz diante das lentes da mídia – este, um local de trocas e disputas de interesses, articulados discursivamente. Definitivamente, lágrimas não me convencem. Não mesmo.

10/07/2009

O que diz a fotografia?



Será que era para ali mesmo que o Obama estava olhando? E o Sarkozy estava sorrindo da situação, pensando algo do tipo: “eita, esse Obama é danado, na hora da foto fica bagunçando!”, achando a maior graça e querendo bem dizer que nem reparou... O Lula então... nem tchum! Tava lá atrás, distraído, embora pareça que a moça está indo ao encontro dele...

Há, neste caso, um contraste, ou melhor, uma complementação – uma vez que texto e imagem remetem um ao outro – entre a fotografia e a chamada “ITÁLIA Presidentes aguardam para tirar fotografia oficial do G8” veiculada pelo portal Terra na última quinta-feira (9).

Um título, aparentemente, sem segundas intenções, inocente. No entanto, os sentidos possíveis, daí decorrentes, dão a entender que, enquanto aguardavam para que a fotografia oficial da reunião do grupo de 7 países mais ricos mundo mais a Rússia fosse feita, os presidentes brincavam, sorriam, e até olhavam para lugares nada esperados, quanto se trata de uma autoridade.

É o flagra que a fotografia consegue captar. A imagem, retirada de seu contexto original pela mídia, acaba podendo produzir efeitos de sentido diversos. Ficam as perguntas: será que era para lá que o Obama estava olhando mesmo? De repente ele nem estava olhando para lá... Estava, sei lá, vendo algo que caiu, e num clique rápido do fotógrafo, a imagem, única, foi capturada através da objetiva!

P.S.: o que mais você acha que essa fotografia pode dizer? Ela está disponível aqui.

P.S.2: Na imprensa local, a ironia foi maior. E mais direta. O jornal Meio Norte desta sexta-feira (10), colocou, na capa, a seguinte legenda: "AQUECIMENTO | Presidentes Barack Obama e Sarkozy no encontro do G-8, que discutiu o aquecimento global".

De que tipo de aquecimento o jornal fala?


P.S. 3: Pode ser que não seja nada do que você está pensando... Analise o vídeo abaixo: