12/02/2012

Um “revival” da Idade Média!?

No último sábado (11), pessoas de várias cidades no mundo se organizaram para protestarem contra o ACTA. Fiz a foto acima na cidade de Dortmund, na Alemanha (a máscara que o homem da foto usa é símbolo do grupo ciberativista Anonymous)

A referência à Idade Média que faço aqui tem a ver com um assunto que vem despertando manifestações no mundo todo: a criação de acordos como o ACTA, SOPA e PIPA, ou qualquer outro tipo de cerceamento da liberdade de acesso e compartilhamento de conteúdos pela Internet.

Outro dia, quando conversava com minha amiga Laila sobre a retirada do site Megaupload do ar, ela disse uma coisa interessante, com a qual concordo: “o povo tá falando no dinheiro, mas acho que a questão principal é a cultura”. E eu respondi dizendo que era a Idade Média de volta. Na Idade Média (e aqui peço licença aos amigos historiadores e ajuda, caso eu esteja enganada) a habilidade de leitura era privilégio de poucos, em geral das pessoas ligadas à Igreja.

Não era fácil montar uma rede de comunicações naquele período, como informa "O Livro de Ouro da Comunicação", de Silvana Gontijo (2004), ao citar Jocques le Golf, em "A civilização do Ocidente Medieval": "A desorganização da rede de comunicações e de relações do mundo antigo entregou a maior parte do ocidente ao mundo primitivo das civilizações rurais tradicionais, preso ainda na pré-história (...)".

Hoje, com a Internet, a informação corre instantaneamente. A possibilidade de organização e de formação de redes de comunicação é imensurável. O acesso aos mais diversos livros, filmes, músicas, documentários e todo tipo de informação, além do seu compartilhamento, é permitido a todos que sabem ler e dominam as ferramentas disponíveis. Se acordos ou leis como o ACTA, SOPA e PIPA forem aprovados, o acesso a esses produtos estará restrito apenas àqueles que detêm recursos financeiros para adquiri-los. E pode ser o começo para restrições maiores nos próximos anos.

Por isso, acredito que não são somente as perdas financeiras de gravadoras, editoras de filmes, estúdios de cinema, que estão em jogo. Pode existir uma questão maior: o acesso à cultura e ao conhecimento. Com pessoas ignorantes os governos podem controlar mais facilmente sua população.

Acontecimentos recentes mostram que cada vez mais os governos tentam controlar o acesso das pessoas à informação. Há um ano, quando também estava na Alemanha, só que a passeio, compartilhei no Facebook dois links: um era para uma página do Estadão, que falava sobre a crise no Egito após milhares de pessoas se organizarem – pela Internet – para saírem às ruas e protestar pelo fim do regime de Mubarak: “Aterrorizado com o poder de mobilização de redes sociais, como o Twitter e o Facebook, Mubarak não teve dúvida: isolou o Egito do mundo ao desconectar o país inteiro da internet”, disse o texto.

O segundo link era para um texto do Observatório da Imprensa, também sobre o assunto e falando sobre a possibilidade de governos que se sentem ameaçados poderem impedir o acesso das pessoas à Internet e à telefonia móvel em momentos de crise.

Mas, como o próprio texto publicado no Estadão dizia, “seres humanos têm uma necessidade básica de se comunicar, então se você impedir a comunicação de uma maneira, eles acharão outra”. Que estejamos atentos a essas mudanças. Se 2012 é mesmo um ano de mudanças profundas para a humanidade, como apontam algumas teorias, que sejam mudanças que nos tornem mais lúcidos e dispostos a lutar pelo bem comum.

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