19/03/2012

Preconceitos e pressuposições

Comecei hoje a ter aulas em outra turma no curso de alemão. Agora só serão duas vezes por semana. O primeiro curso, intensivo, apesar de muito bom, tinha uma mensalidade muito alta e eu, como ,,Au-Pair Mädchen“ não tinha como bancar até o final. Entrei para uma turma que está junta desde o final de janeiro. Tive que me apresentar e depois ouvi a apresentação dos demais. São pessoas do Vietnã, da Polônia, Portugal, Itália, Somália, mas o colega que mais me chamou atenção veio do Iraque.

Ele falou seu nome uma vez, pedi para repetir e ele repetiu, calmamente, mas, ainda assim, não consigo agora lembrar. Admito: no momento em que ele falou ser do Iraque, a primeira imagem que me veio à mente foi a de um terrorista. Talvez a aparência física – ainda que ele não usasse uma barba – e a palavra “Iraque” tenham me feito ligar uma coisa à outra.

Na volta para casa, recriminei-me muito por ter pensado aquilo. Afinal, da mesma forma que associei, mesmo que não propositadamente, a imagem daquele homem à de um terrorista, alguém pode me ver, enquanto mulher brasileira, de diferentes formas. Em geral, mulher latina e do leste europeu é vista como uma possível prostituta.

E, se eu, estrangeira, atribuí uma imagem estereotipada e preconceituosa àquele homem, o que pensará então alguém com ideologias conservadoras, como muitos que existem por aqui, sobre mim, sobre meus colegas da Polônia, Itália, Iraque?

Na Alemanha as diferenças entre “nacionais” e “imigrantes” são mais acentuadas do que eu imaginava. O modelo de integração adotado, assim como na Suíça, é segregacionista, os imigrantes são mantidos à margem (saiba mais sobre isso) e para eles é sempre reforçado o fato de que estão aqui para atuarem como mão-de-obra barata. Tenho percebido isso aqui, na região onde moro, ao conviver com pessoas que vieram de outros países, na maioria dos casos, para tentar uma vida mais digna.

Entre algumas histórias, há uma que me fez deixar de gostar de uma das professoras que mais admirava no curso da Volkshochschule. Isso foi no dia em que percebi um tom irônico quando ela falava sobre a vinda de parentes de estrangeiros que residem na Alemanha.

Ela citou o fato de que, a princípio, o país estimulou a vinda de estrangeiros para atuarem em trabalhos que, normalmente, não eram feitos por alemães, os trabalhos braçais. Ela falou mais ou menos assim, sorrindo, enquanto a classe acompanhava nas risadas: “Eles deveriam vir e voltar depois aos seus países. Mas foram ficando. Perceberam que poderiam ter uma vida confortável aqui e, assim, vieram irmão, filho, primo e ficaram também”. Ou ela realmente foi irônica ou eu sou muito chata pra não entrar nesse tipo de brincadeira.

Apesar do alemão ainda não muito avançado, já consigo conversar, conhecer e contar algumas histórias. Espero que minha proficiência melhore até o final desta temporada nas terras germânicas, para que eu possa ouvir mais e mais pessoas, inclusive o meu colega do Iraque.

4 comentários:

Rogério Dino disse...

Fernandinha meu amor, o preconceito de uma maneira ou de outra acomete a todos nós seres humanos, humanos que somos...O importante é percebê-lo e mudar com a própria auto-crítica, e dessa forma, combatê-lo, simplesmente espalhando amor por onde passarmos.
beijo saudoso do tio.

Laila disse...

Poxa, Fer! Cada vez gosto mais do seu blog, cada vez mais humano! Sei que não deve ser sua pretensão como jornalista, mas eu penso que falta humanidade nos demais meios de informação e fico feliz que vc esteja fugindo do perfil direto e se deixando levar pelas experiências.

Fernanda Dino disse...

Pois é, tio Rogério. Eu tento sempre não julgar... mas sou humana e erro também. Laila, obrigada! Realmente não tenho muita pretensão com esse blog não. Na verdade não gosto muito de escrever textos "tão pessoais", mas é o que tem me dado vontade de escrever. :)

Anônimo disse...

Olá, Fernanda
Tudo bem?
Muito interessante seu post. Acho que muito do preconceito que por vezes nos acomete é influência das falsas 'verdades' disseminadas por determinados tipos de mídia.
Um abraço,
Lu