06/05/2012

O dia em que vi a Angela Merkel de perto



Há alguns dias vi cartazes anunciando a vinda da Kanzlerin (chanceler) a Arnsberg, o que ocorreu na última quinta-feira (3). Ela veio fazer campanha para o seu partido, o CDU (União Democrata Cristã), no estado de Nordrhein-Westfalen. As eleições para o novo parlamento da região ocorrem no próximo dia 13. 

Apesar de toda a euforia das pessoas que estavam presentes, tudo indica que o CDU não está com a bola toda na Alemanha, o que pode dificultar a reeleição da chanceler em 2013. As eleições em Nordrhein-Westfalen, estado mais populoso do país, no dia 13, e em Schleswig-Holstein, que acontecem hoje (6), podem ser determinantes para que o CDU permaneça com o poder em Berlim.  

O sistema político da Alemanha é bem complexo. É também diferente do que ocorre no Brasil e mesmo em relação a outros países da Europa. Aqui, o papel do presidente é praticamente simbólico. Quem toma as decisões e encabeça o poder executivo é o chanceler. Neste site, em português, você pode entender melhor como funciona a estrutura política e as eleições no país.

A “visita” de Angela Merkel

Como jornalista e curiosa, eu jamais poderia perder a oportunidade de estar presente nessa visita de Angela Merkel ao centro do distrito onde eu moro. Ainda que meu nível de alemão não seja o suficiente para entender completamente o que foi dito nos discursos dos políticos presentes na ocasião, eu queria participar e observar, pessoalmente, como acontece um “comício” na Alemanha.


Desde cedo, na quinta-feira, começou-se a montar a estrutura no Marktplatz, ponto central da cidade. Havia um palanque em frente à catedral e, em frente a esse palanque, uma área isolada, com alguns bancos, reservado a políticos do partido e residentes que chegassem cedo ao evento. Existia também uma área reservada à imprensa, em frente ao palanque. 

Só cheguei às 18h – o evento estava marcado para ter início às 18h com a fala de políticos locais do CDU e, às 19h, com a presença da chanceler – porque só poderia sair de casa quando minha chefe chegasse. Mas fui. Já estava lotado tanto nas áreas reservadas como nos arredores.

Queria fazer algumas fotos mais próximas e, quem sabe, pegar uma entrevista. Falei com o pessoal da imprensa, disse que era jornalista no Brasil e que não havia me inscrito previamente. Perguntei se poderia entrar na área reservada aos jornalistas. Não deixaram.


Dei uma volta, fiz algumas fotos de longe, e perguntei novamente, em outra entrada de uma das áreas reservadas, onde havia seguranças e pessoal da organização do CDU, se eu poderia entrar. Não deixaram.

Dei mais uma volta e, em outra entrada, fiz minha terceira tentativa. Expliquei de novo que era jornalista no Brasil e que gostaria de fazer algumas fotos. E não é que deixaram eu entrar? =D

Fiquei lá, tirando fotos e fazendo algumas anotações no meu bloquinho a respeito das falas dos políticos e do que acontecia. Os discursos eram intercalados por intervalos com música, tocada por uma banda que também estava presente. Havia alguns protestos nos arredores, quase que silenciosos, por meio de cartazes.


Quando faltavam 10 minutos para as 19h, Klaus Kaiser, um dos membros do CDU em Nordrhein-Westfalen, afirmou que iríamos ouvir mais um pouco de música e que em seguida teríamos a presença de Angela Merkel, “porque a chanceler é pontual”.

E é mesmo – aliás, os eventos aqui na Alemanha costumam começar e terminar pontualmente no horário marcado. Às 19h anunciaram que ela tinha chegado e vi vários seguranças se organizarem para fazer uma espécie de corredor, por onde ela entraria na parte central, um dos locais que estavam isolados (e onde eu estava), até chegar ao palanque. 


Ela, enfim, apareceu. Quase todo mundo querendo pegar em sua mão, inclusive crianças, e ela, de maneira muito simpática, correspondia aos gestos (ela passou bem do meu lado... mas preferi continuar fazendo foto em vez de pedir um autógrafo hehehe).

Então subiu ao palanque, os partidários começaram a falar novamente e, alguns minutos depois, ela também discursou, sendo, várias vezes, aplaudida – apesar de seu partido não estar tão forte na Alemanha, a postura firme da chanceler na condução da crise na zona do euro deixou sua popularidade intacta. 


A chanceler assinou ainda um chamado “livro de ouro” da cidade, que, pelo que entendi, é uma espécie de livro em que personalidades deixam sua assinatura quando visitam o local. Uma menina, que estava na mesma área que eu, segurava um pequeno caderno e queria um autógrafo. A chanceler disse para ela subir e atendeu ao pedido.


Quando chegou ao final do “evento”, esperava que Merkel fosse conceder alguma entrevista coletiva. Mas não. Ela saiu pela parte de trás e os jornalistas presentes ficaram onde estavam, colhendo depois apenas alguns depoimentos de candidatos locais.  

Algumas percepções

Se eu disser que consegui entender cada palavra pronunciada pelos políticos que estavam presente, estarei mentindo. Faz só três meses que estou na Alemanha e ainda não domino completamente o idioma. Consigo sim me comunicar, entender muita coisa, mas não tudo. No entanto, isso não me impediu de fazer algumas observações.

Em seus discursos, os candidatos enfatizavam ideias ligadas ao desenvolvimento do turismo da região (um deles disse que Sauerland, como é conhecida essa área, é um lugar muito bonito, que oferece muitas possibilidades de turismo) e educação (Norbert Röttigen, atual ministro do Meio Ambiente na Alemanha e que encabeça a chapa por aqui, disse que é preciso ter boas escolas, boas aulas, com bons professores e que isso é um dos conceitos mais importantes do CDU). 


Falaram ainda sobre a crise do euro, da necessidade de gerar mais energia na região para oferecer boas condições às indústrias e ainda que, em cinco anos, esperam que esse país esteja “como queremos”. No final, Norbert Röttigen afirmou: “no dia 13 de Maio, essa é a sua tarefa”, votar pelo CDU.

Apesar de estar em outro contexto, num país com níveis econômicos e sociais completamente diferentes do Brasil, ao ouvir cada frase que eu conseguia entender saindo pelos discursos dos partidários de Angela Merkel, parecia que eu estava acompanhando um evento político no Brasil, mesmo em Teresina.


Abordar assuntos que fazem parte do imaginário da população (educação, desenvolvimento do turismo, industrialização, desenvolvimento econômico etc.) como cruciais para a melhoria do bem-estar de todos, é uma estratégia discursiva. Apresentar uma postura firme na hora de falar e procurar “tocar” o público também são. 

Estas foram apenas algumas das minhas percepções durante o evento, que eu acompanhava lembrando de cada capítulo do livro Discurso Político, do Patrick Charaudeau: um linguista francês, que utiliza exemplos ocorridos na França a fim de elaborar categorias para as estratégias do discurso político, às quais eu já recorri em análises feitas no Brasil e que poderiam também ser aplicadas por mim aqui. E enquanto tudo aquilo acontecia, o que eu pensei foi: os discursos políticos só mudam de contexto (o que é uma grande coisa e interfere muito nos sentidos produzidos). As estratégias, no entanto, são praticamente as mesmas.













5 comentários:

Ricardo Olissil disse...

Nossa, Fernanda! Muito legal essa experiência e suas fotos tbm. É bom a gente ver como é a visão política em um país que, para nós, tem tudo de bom! Imagina como não é pra eles ter algo que pra nós ainda [é utópico e pra eles ainda precisa melhorar, como uma educação de qualidade?

Além do mais, sua determinação é mesmo de uam jornalista, querer adentrar de todas as formas rs. Parabéns pelo "furo" =D

Anônimo disse...

Muito legal, Fernanda!!! Parabéns! Ana Rita Santana

Solange Dino disse...

Você sempre nos surpreendendo cada vez mais com a sua determinação,hein Fernanda? Parabéns pela matéria!!! Traga sempre novidades daí pra que possamos conhecer um pouco mais sobre essas curiosidades... vc faz toda a diferença no jornalismo.

Márcia Gabriele disse...

Parabéns meu orgulho, essa sim é um exemplo a ser seguido. Que incrível! Qualquer dia dá uma passada em Paris e veja o novo presidente!

Márcia Gabriele disse...

Parabéns pela matéria, eita jornalista arretada de boa é essa. Um exemplo a ser seguido.