17/07/2012

Sentindo uma História palpável


Parede da barragem em Möhnesee,
destruída em 1943 após um ataque inglês 

Nesses meses vivendo aqui na Alemanha tenho obtido um aprendizado constante. E não é só em relação ao contato com um novo idioma. A cada dia e a cada pessoa nova que encontro por aqui (a Alessandra é uma delas) passo a conhecer mais detalhes sobre a vida neste país, em que o impacto de acontecimentos históricos se faz tão presente no cotidiano. 

É ouvindo as pessoas com quem tenho me relacionado nos últimos tempos – tanto alemães como brasileiros – que mais tenho aprendido e descoberto novas informações, que, para mim, são impressionantes. É como se, de repente, toda a História que eu estudei na escola e que me parecia tão distante, agora se tornasse muito mais palpável e real. 

Parece coisa de filme saber que ainda existem, sob o solo, bombas que não explodiram, principalmente em cidades maiores. Por isso é sempre preciso muito cuidado aqui ao se fazer alguma construção. Vez ou outra, pelo que já ouvi em alguns relatos, uma bomba é encontrada e é preciso chamar especialistas para que desarmem ou, quando não é possível desativá-la, é necessário interromper a obra.  

A ilustração é de um material com informações
turísticas sobre Möhnesee. Na foto superior, uma
imagem atual da barragem. No canto inferior
esquerdo, a imagem de como o local ficou
após o bombardeio inglês

Perto de onde eu vivo, há uma barragem, chamada Möhne-Sperrmauer, que em maio de 1943 foi bombardeada e teve sua parede destruída. Com o ataque, realizado com o uso de uma bomba inglesa especial, própria para destruir barragens, a região ficou inundada. Houve a destruição não só da principal fonte de energia do local, como também de uma pequena aldeia próxima, chamada Günne, levando mais de 1.200 pessoas à morte. 

Uma das histórias que também ouvi é de que, na cidade onde eu vivo, há uma fábrica de lâmpadas que, à época da 2ª Guerra Mundial, foi um local onde ingleses eram aprisionados e realizavam trabalhos forçados.  Outro dia escutei ainda uma brasileira que teve a chance de ver correspondências que foram trocadas entre um casal separado pela Guerra – o homem não voltou mais para casa, porque não sobreviveu.

Os reflexos dos acontecimentos que marcaram a História do país são muito claros na atualidade. Em se tratando de comportamento, por exemplo, somente de alguns anos para cá é que as pessoas começaram a colocar bandeirinhas da Alemanha na frente das casas e a enfeitar os carros com as cores que simbolizam o país. 

Atualmente os alemães, sobretudo os mais jovens,
se sentem mais à vontade para expressar algum
tipo de patriotismo, embora que isso seja mais
comum somente em época de campeonatos esportivos
 

Muitos, sobretudo as pessoas mais velhas, que viveram a época da Guerra, não se sentem à vontade para exibir algum tipo de nacionalismo. Fazendo uma comparação, qualquer pessoa não teria problema em vestir, no dia-a-dia, uma camisa com as cores verde e amarela, no Brasil. Aqui é diferente. Conversando com uma amiga alemã, ela disse que não se sente à vontade para exercer esse tipo de manifestação em outros momentos que não sejam em época de campeonatos esportivos. O mesmo me disseram também colegas com quem faço um curso de inglês - a maioria deles tem mais de 60 anos.

Ter a chance de ouvir relatos tão reais e de tentar entender o impacto de acontecimentos históricos na atualidade tem me deixado encantada. Eu não poderia ter feito escolha mais acertada para o ano de 2012 do que esta, de vir para Alemanha, ser Au-Pair e ter a chance de viver uma experiência tão rica. Vale a pena tentar conhecer e compreender um lugar completamente diferente da realidade à que você está acostumado. Isso oferece a possibilidade de crescer intelectualmente e, também, como ser humano. 

No próximo post quero falar da minha visita à cidade de Köln ou Colônia, em português, uma cidade com uma igreja enorme, cheia de marcas da história, LITERALMENTE.

Um comentário:

Tahiana disse...

maravilha, Fernanda! adoro as informações que você compartilha, sempre tão bem descritas e relevantes! obrigada!