Confira a segunda parte da entrevista:
O que o senhor percebe de diferenças no modo de se fazer jornalismo ontem e hoje no Piauí?
Hoje há uma unificação de pautas, há uma semelhança, as pautas são todas muito parecidas. Quando você ouve uma matéria numa emissora, e aí não só no rádio, mas na televisão, e lê nos jornais e nos portais, ela tem a mesma configuração, ela tem a mesma textura. No rádio de ontem não, porque não havia possibilidade de copiar. Cada um tinha que sobreviver pelo seu talento, a fonte de informação, embora a mesma, mas, com base no seu redator, ela ganhava uma dimensão, uma proliferação, embora o conteúdo fosse o mesmo, mas tratado de forma diferenciada, porque nós tínhamos poucos recursos para estar copiando do outro. Era preciso produzir com autonomia.
E o que permanece de semelhante?
A dinâmica. O rádio de ontem e hoje tem uma dinâmica muito forte, ele é muito instantâneo, é muito imediatista. Ele tem a deficiência de não servir como documentário, mas ele contenta essa sua deficiência com a sua rapidez, pela sua velocidade e pela sua acessibilidade. Não só o comunicador, como o comunicado, estão muito interagindo, também tem isto. A interatividade que o rádio permite, que outro meio não permite. Quando o faz, não faz com a mesma rapidez.
Que fatos o senhor destacaria na cobertura radiojornalística nessas últimas quatro décadas?
O rádio e a comunicação tem mais, é mais acentuada nos conflitos beligerantes, sobretudo entre países nas guerras, nos conflitos urbanos, nos dramas, nas tragédias. Aquela do World Trade Center o rádio foi muito presente, nas guerras, tanto do Vietnã, e a partir da 2ª Guerra Mundial. O rádio, aliás, teve a sua segmentação justamente para fazer-se como uma instrumento de apoio dos combates. O que eu registraria como fato e, infelizmente, tragédia, seria o World Trade Center, são fatos que fizeram com que o rádio desse sua contribuição. Porque embora haja dentro do rádio e das comunicações como um todo um segmento voltado para a dramaticidade, para o sensacionalismo, há um grupo que vai atenuando os impactos da informação, não permitindo que essa informação extrapole a sua realidade.
Nós somos muito ávidos por exagerar, e aí, o que não faz muito o meu gênero, da violência urbana, quando uma pessoa é vítima de um homicida e este lhe dispara um revólver, são dois tiros, suficiente um só para matar, mas muitos dizem que foram seis, uma dúzia... então essa coisa de exagerar não é muito da nossa afinidade, mas é uma realidade que nós temos assistido com muita freqüência. Quando nós temos a oportunidade de falar para os jovens, é que o sensacionalismo pode dar um pico de audiência, mas nós trabalhamos por uma audiência sustentável, aquela que é permanente, contínua, e eu penso até que, sem qualquer ar de arrogância, é que se não fora isso, nós não estaríamos aqui nesse sistema, na Rádio Pioneira, já passamos por algumas televisões com esse tempo todo de 39 anos, ali, devagarzinho, mas persistentemente, sistematicamente, como um atenuador.
O senhor começou no rádio na época da ditadura. Era diferente a forma de abordagem das notícias em relação àquela época e hoje?
Nós vivemos aquela ditadura e hoje vivemos uma outra ditadura. Vivemos ontem uma ditadura militar e hoje vivemos uma ditadura econômica. Na comunicação. A ditadura militar não permitia qualquer expressão, e isso é próprio das ditaduras, que contrariasse a sua idéia. Mas tinha também, de certa forma, algum zelo, não sei se hipócrita ou não, com a questão moral. Hoje o único respeito que a rádio, que as comunicações estão tendo é ao valor econômico. Se tem dinheiro pode tudo. É o que diferencia entre ontem, no regime militar, e hoje no regime econômico.
Um comentário:
lol,so nice
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