“Eu creio que se a gente compreender que há um projeto em curso e que ele está acima do projeto pessoal de cada um de nós e de cada partido, eu acho que o povo com certeza saberá responder corretamente nos dando mais uma chance”.
A frase acima foi dita pelo governador do Piauí, Wellington Dias (PT), quando eu o entrevistava na última quarta-feira (21), após uma solenidade de entrega de viaturas para a Agespisa.
O enunciado destacado finalizou uma resposta que durou 4 minutos e 35 segundos, dada pelo governador a mim. Eu perguntei como ele avaliava a pré-candidatura do secretário estadual de Fazenda, Antônio Neto (PT), ao governo do estado em 2010.
Hoje (23), também durante entrevista, o governador falou: “O candidato, eu já sinalizei, já muito antes, é aquele ou aquela que tiver a melhor condição de unificar o time, portanto, tem que estar de bem com as lideranças e com o povo”. Mais uma vez ele recorre ao “povo”, desta vez para falar sobre os vários nomes que têm surgido dentro dos partidos da base do governo como candidatáveis ao Palácio de Karnak.
Wellington Dias e Jean-Pierre Chevènement (este segundo é um político francês de esquerda, co-fundador do Partido Socialista), estão separados pelo tempo e pelo lugar geográfico, no entanto, são unidos por empregarem estratégias típicas do discurso político.
O enunciado a seguir foi proferido pelo francês em um debate com o ministro de Assuntos Estrangeiros do governo alemão. O texto foi publicado no jornal Le Monde, em 21 de junho de 2000.
"Eu creio que, naturalmente, o povo é o depositário da soberania”.
Voltando ao primeiro enunciado do governador
Com outras palavras, o governador Wellington Dias (PT) pede aos eleitores que votem no candidato que ele indicar para suceder-lhe em 2010.
Continuar o projeto da atual gestão está acima do projeto pessoal de alguém ou de algum partido. Manter o projeto é soberano. Esse é um dos sentidos possíveis a partir do que declarou Wellington Dias.
O francês Patrick Charaudeau, analista de discurso, fala sobre o imaginário da soberania popular como um dos modos de sustentação do discurso político. O texto que eu cito abaixo, extraído do livro Discurso Político (Editora Contexto, 2006), cai bem para minha análise:
"O objeto de busca da ação política é um “bem soberano” que une essas duas instâncias [a política e a cidadã] em um pacto de reconhecimento de um “ideal social” que é preciso querer atingir e para cuja obtenção é preciso dar-se os meios”.
Recorrendo a determinados "modos de dizer" e à visibilidade que tem junto à mídia, o governador do Piauí vai se fortalecendo como político e plantando sementes cujos frutos pretende colher nas próximas eleições...
Atenção!!!
E antes que alguém (atenção petistas!) venha me dizer que eu estou errada, que na verdade Wellington Dias vai convencer os eleitores através do trabalho que vem fazendo pelo desenvolvimento do Piauí (com realizações nunca antes registradas na história desse estado), eu digo: por mais que o governador (ou qualquer outro político) realmente trabalhe, se não tiver um bom “papo”, ou seja, se não dominar estratégias do discurso político, não convence.
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